sábado, 21 de maio de 2011

Assis Valente: "... E o mundo não se acabou" (v.a.)

"... E o mundo não se acabou" revisitada por 15 intérpretes
Carmen Miranda e Assis Valente em 1939 na Rádio Mayrink Veiga no Rio


Hoje, 21 de maio de 2011, teremos o momento fatal: o fim do mundo. As boas almas subirão ao céu. As que permanecerão na terra passarão por tormento até o fim dos tempos.

O anúncio bombástico é do movimento cristão norte-americano Family Radio Worldwide. De acordo com a Associated Press, o grupo baseia-se na interpretação que o líder, Harold Camping, antigo engenheiro civil de 89 anos, faz de várias passagens da Bíblia e de acontecimentos da história recente. A fundação do Estado de Israel, em 1948, é um dos fatos apontados por Camping para justificar o fim do mundo.

Li a notícia e me lembrei do talentoso Assis Valente, um mestre na arte de traduzir em música as crônicas do cotidiano. É um dos autores que mais admiro. Ele compôs em 1938, em alusão a notícia que circulava na época sobre o fim do mundo, a deliciosa “... E o mundo não se acabou”. Entregou imediatamente para Carmen Miranda, sua intérprete preferida, gravar este clássico em 9 de março de 1938. Foi apenas mais uma entre as 24 composições de Assis Valente que a Pequena Notável gravou.

Assim, em homenagem ao centenário de nascimento de Assis Valente, comemorado em 19 de março de 2011, reuni 15 artistas, cada uma com seu jeito de interpretar “... E o mundo não se acabou”. A coletânea começa com Carmen Miranda, pois foi com ela que a canção caiu na boca do povo e inspirou novas gerações a regravá-la. A base da gravação aqui postada é a original de 1938, mas é acompanhada por novos instrumentos, graças aos novos recursos tecnológicos. É uma das faixas do CD Carmen Hoje, lançado pela Biscoito Fino, que oferece informações sobre o projeto em seu portal. O disco traz Carmen de volta, mas com uma sonoridade de hoje. Um trabalho de mestre. Vale a pena comprar.

Além de Carmen, a coletânea traz grandes nomes da MPB, como Ademilde Fonseca e Marlene em gravações dos anos 50, e Isaura Garcia, em registro ao vivo, no qual relata sobre o seu início de carreira, e a paixão que tem por Aracy de Almeida e Carmen Miranda. Ídolos da atualidade como Ney Matogrosso, Lecy Brandão, Paula Toller, assim como a novata banda 1e99, ao colocarem Assis Valente no repertório, só confirmam a veracidade da tese segundo a qual a boa música resiste ao tempo.

Assis Valente morreu em 10 de março de 1958 por suicídio. Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, o motivo foi a situação financeira em que se encontrava. “Exatamente às 17h55 min, portanto, oito dias antes de seu 47º aniversário, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Vestia calça azul-marinho e blusão amarelo. Em seus bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco cruzeiros. Na carta, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado, e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências. E acrescentava: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".

E o mundo se acabou para Assis Valente. 

INTÉRPRETES

01. Carmen Miranda
02. Isaura Garcia
03. Ademilde Fonseca
04. Marlene
05. Marília Medalha
06. Banda 1e99
07. Eliete Negreiros
08. Paula Toller
09. Sururu no Samba
10. Adriana Marques
11. Ney Matogrosso
12. Leci Brandão
13. Márcia Lopes
14. Adriana Calcanhoto
15. Ná Ozzetti

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