domingo, 1 de abril de 2012

Agnaldo Rayol - As minhas preferidas (LP 1968)

Agnaldo Rayol interpreta 12 músicas escolhidas em 1968 pelo presidente Costa e Silva

Ninguém pode negar: o repertório é de primeira, e o intérprete - Agnaldo Rayol, no auge da popularidade em 1968 - está brilhante como sempre. Este disco, postado a pedido do Rubens, de São Paulo, me leva a questionar o motivo da sua produção. Qual seria o interesse da gravadora, a Copacabana, e a razão que levou o cantor a aceitar o projeto: gravar 12 músicas selecionadas pelo presidente da República. Seria, nos dias atuais, algo como Ivete Sangalo interpretar repertório escolhido pela presidente Dilma Rousseff. A diferença, no caso deste álbum, está no fato de que o presidente em questão é o marechal Artur da Costa e Silva, o mesmo que naquele ano de 1968 faria valer a partir de 13 de dezembro o Ato Institucional Número 5 - mais conhecido como AI-5, considerado o mais duro golpe na democracia e que deu poderes absolutos ao regime militar no Brasil.

O AI-5 foi uma represália ao discurso do deputado Márcio Moreira Alves, que pediu ao povo brasileiro que boicotasse as festividades de 7 de setembro de 1968, protestando assim contra o governo militar. Outro fator teria sido o lançamento da canção "Caminhando" (Pra não dizer que não falei das flores), de Geraldo Vandré, que os militares consideraram uma afronta às Forças Armadas. Em certo trecho, dizia Vandré: "Há soldados armados, amados ou não;/quase todos perdidos, de armas na mão./Nos quartéis lhes ensinam antigas lições/de morrer pela pátria e viver sem razão".

É de se estranhar que, mesmo diante deste cenário político e social, seja apresentado ao público este projeto que só beneficiou o ditador. Afinal, ao usar a imagem e o prestígio do Agnaldo Rayol - que habilmente não aparece na capa - o governo militar delineou a "faceta cultural" do presidente junto a opinião pública. Passou, aos menos informados, a ideia de que era um homem ligado à família, como sugere a imagem da capa, e à cultura. Na verdade - por meio do AI-5 - Costa e Silva instituiu a censura nos meios de comunicação e no conteúdo de toda a produção cultural e artística. Nunca li referência do Agnaldo Rayol sobre este disco. Gostaria muito de saber o que ele teria a comentar sobre o projeto. Fico também imaginando como teria sido a reação do Chico Buarque ao saber que a sua "Carolina" foi uma das doze músicas preferidas do presidente. Confira as outras da lista:

01 - Ave Maria no morro
..... (Herivelto Martins)
02 - Minha terra
..... (Waldemar Henrique)
03 - Feitio de oração
..... (Noel Rosa - Vadico)
04 - Prenda minha
..... (Motivo folclórico gaúcho)
05 - Chão de estrelas
..... (Sylvio Caldas - Orestes Barbosa)
06 - Canta Brasil
..... (Alcyr Pires Vermelho - David Nasser)
07 - Perfil de São Paulo
..... (Francisco de Assis Bezerra de Menezes)
08 - Lamento
..... (Pixinguinha - Vinicius de Moraes)
09 - Carolina
..... (Chico Buarque de Holanda)
10 - Noite cheia de estrelas
..... (Cândido das Neves)
11 - O que eu gosto de você
..... (Silvio César)
12 - Na baixa do sapateiro
..... (Ary Barroso)

FICHA TÉCNICA

Produtor: Waldemar Cola Francisco
Técnico de gravação: Rogério Gauss
Gravação: Estúdio de Gravações Reunidos
Capa: Tony Koegl
Contracapa: Des. Dr. Milton Sebastião Barbosa
Diretor musical: Moacyr Silva
Maestros: Ciro Pereira e Ted Moreno
Direção geral: Paulo Rocco
Realização: Som Indústria e Comércio S/A

12 comentários:

  1. Olá, acabei de conhecer o seu blog e já notei que será um dos meus preferidos!
    Obrigado por compartilhar tantas pérolas!

    Cesar M

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    1. Cesar

      Seja bem-vindo! Muito obrigado pelo comentário.

      Abs

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  2. será que o amigo chico teria essas musicas do agnaldo rayol por favorCPS
    (1970) Copacabana 0889

    Artista(s):
    Agnaldo Rayol

    1. Um Adeus Em Seu Olhar
    (Nelson Ned)

    2. Você Vai Ver
    (Cláudio Fontana / Nelson Ned)

    E O LP DE 1971 ''O QUE EU CANTO'' E O DE 1972 ''IMAGEM''.

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  3. Talvez neste disco está a explicação da carreira deste cantor ter-se estagnado com o fim da ditadura, como tantos outros que ficaram com fama de servirem ao sistema.

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  4. Caro amigo foi dito que por meio do AI-5 - Costa e Silva instituiu a censura nos meios de comunicação e no conteúdo de toda a produção cultural e artística e o que me consta é a riqueza de produtividade e criatividade artistica até hoje da época. Sem hipocrisia a censura foi importante na época e até seria nos dias atuais num país de subcultura como o nosso que não sabe distinguir democracia com anarquia (como vemos nos dias atuais). Eu não lembro de nenhum militar que tenha saido mais rico no fim de seu mandato. Veja hoje com a democracia a corrupção e a riqueza de todos os políticos

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  5. Olá amigo!!!

    Você conseguiu com que eu literalmente voltasse no tempo, muito obrigado!!!! parabéns!!!!!!!!!!!!!

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  6. É muito gostoso agente ouvir musicas, principalmente as românticas do passado.
    Muito obrigado !!!

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  7. Novo link:

    http://www.4shared.com/rar/vNHlWPkM/246_-_ARAYOL.html

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  8. Agnaldo Rayol não tinha visão política, apesar de conviver com o pessoal da MPB (na TV Record onde ele tinha um programa semanal) que era francamente contra a Ditadura Militar imposta ao país em 1964. Agnaldo era uma pessoa mal informada. Se ele fosse bem informado não teria gravado 'Non pensare a me' (vencedora de San Remo em 1967) no LP 'Côrte-Royal Show', quando o Luigi Tenco tinha se suicidado em protesto contra as práticas corruptas do Festival. Agnaldo pouco se importou com a imolação de seu colega italiano. Agnaldo era mau-caráter? Não acredito; apenas ignorante (mal-informado). Se ele quisesse gravar algo de San Remo ele poderia ter escolhido 'L'immensità' de Don Backy que era muito melhor e ele poderia dar aqueles agudos famosos no final...

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  9. Comentando os comentários !,sinto saudades sim da Ditadura,teve os Prós e Contras, ( estamos em 2014, com o pt da dilma no Poder ), o que se vê atualmente é "Contras " só roubo, trapassa e corrupção. Em relação ao disco do Agnaldo,eu não conhecia,o engraçado é que o saudoso Wilson Simonal que sofreu e morreu como X9. Em relação ao Luigi Tenco,eu sabia que ela havia se suicidado, porque eu era ouvinte do Programa Hélio Ribeiro,chamado o Poder da Mensagem e uma dia ele tocou uma linda musica e citou o fato. Parabéns pelo Blog.

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  10. Marechal Costa e Silva selecionou uma musica de Chico Buarque, quem diria não.

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